Pornô como espaço de opressão
- Ana Eliziário
- 17 de out. de 2015
- 3 min de leitura
(Antes que vocês comecem, esse texto é um amontoado de questionamentos com pouquíssimas respostas. Vamos desconstruir juntos?)

Outro dia estava vasculhando um site de filmes pornôs e não conseguia encontrar um só vídeo para assistir. Sempre, como feminista, encarei o pornô como forma de emancipação sexual da mulher; uma forma dela se conhecer e se dar prazer, sem precisar depender de ninguém. Acho que, de um tempo para cá devo estar problematizando um pouquinho mais as coisas (ou me tornando mais chata, quem sabe), pois não conseguia ter tesão por nenhum dos vídeos que abria.
Na verdade, a sensação que estava sentindo era repulsa. E muita vontade de rir. Aqueles vídeos estavam diametralmente opostos ao que sexo sempre foi pra mim: um momento de troca. Não me importa se uma troca de amor e afeto com alguém que estou há muitos anos, ou de um sentimento voraz com alguém que acabei de conhecer num bar. Não havia troca alguma ali.
Não vou entrar em méritos de vídeos feitos para meninos gays, já que não é minha praia. Seja em posição de dominadora ou de submissa, a mulher ali está em posição de agradar, de dar prazer para o homem e não receber nenhum em troca. Quantas cenas, que seriam desconfortáveis ou até mesmo dolorosas para a mulher, não estavam sendo feitas para agradar um espectador masculino? Me pergunto se algum daqueles atores conhece um pouco de anatomia feminina, com todos aqueles toques agressivos, invasivos e "errados". Eu, com certeza, desistiria de transar com alguém que me tocasse daquela forma.

Outro ponto curioso sobre o pornô hetero: não há camisinhas. Imagino que a indústria pornográfica deva ser um limbo onde as DST's ainda não chegaram, pois devo ter visto preservativos uma ou duas vezes em vídeos em toda minha vida. Que exemplo esse tipo de conteúdo, que vem sido consumido por pessoas cada vez mais jovens, tem dado? Não é de se espantar que a contaminação pelo vírus HIV vem aumentado exponencialmente entre heterosexuais, tendo um aumento de 53% em adolescentes (de 13 a 24 anos) nos últimos dez anos. Em relação à contaminação, 86,8% dos casos entre as mulheres e 44% entre os homens provém de relações heterosexuais (dados de 2013).

Quando se trata de pornô lésbico, o buraco é mais embaixo. Um filme pornô estrelado apenas por mulheres não poderia ser mais diferente de uma relação lésbica de vida real. Todas as poses, toques e expressões são voltadas para um único expectador: o homem. Pouco daquilo traria prazer à uma mulher homosexual, mas é extremamente estético e com ângulos que não favorecem o prazer da mulher, mas sim a filmagem. Nem quando o sexo ocorre só entre elas, na indústria pornográfica , o prazer é pra elas. Na verdade, é para eles. Curiosamente, isso condiz muito com como um casal de lésbicas são tratadas na vida real: homens não as respeitam como pessoas, mas como símbolos sexuais. Quem nunca viu/ouviu a fatídica: "lésbicas? Posso participar?".
(Não pretendo entrar no assunto proteção para as meninas que gostam de meninas nos filmes, já que é um assunto pouquíssimo abordado na vida real. Como diria mamãe: não exija mais das pessoas do que elas podem te dar)
Outro ponto que não saía da minha cabeça era: quantas dessas mulheres se submetem a isso por que querem? Não estou negando que existam aquelas que escolheram a pornografia, mas quantas não? Quantas serão que são vítimas de abuso, estupros, pedofilia, tráfico de pessoas? Há alguma forma de controle sobre isso? Estima-se que cerca de 1.4 milhões de mulheres são escravas sexuais ao redor do mundo. Quantas estão envolvidas na indústria pornográfica? Será quando eu assisto meu filme pornô, eu estou apoiando tudo isso? Pessoalmente, a ideia de ser conivente com esse tipo de abuso a outras mulheres me apavora. Não quero que minha libertação sexual seja a causa de grilhões de outras irmãs pelo mundo.

Sei que esse texto está vago, ou pode ser taxado de simplista. Sei que são muitas perguntas em aberto, mas é porque minhas reflexões ainda não me levaram a lugar algum. Tenho feito pesquisas em relação a isso, mas gostaria muito da opinião de vocês. Vamos debater, pensar juntos? Minha cabeça, como mulher e feminista, está muito confusa em relação a este assunto. Por favor, vamos usar a caixinha de comentários e desconstruir juntos?
Referências
http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2015/07/pesquisa-alerta-para-o-crescimento-da-aids-entre-os-jovens-brasileiros.html
http://www.aids.gov.br/pagina/aids-no-brasil
https://www.thepinkcross.org/porn-statistics
https://coletivomuv.files.wordpress.com/2015/03/abuso-sexual.jpg
http://static1.jornalmetro.com.br/wp-content/uploads/2015/05/aids-no-brasil-arte.jpg
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